As Lusófonas 5

DEMOGRAFIA

Luanda, 2013

I. Fabiano é o meu taxista de hoje. Rapaz jovem, cheio de ideias, mas desanimado com o futuro do país. “Tenho um filho com dezassete anos e queria que ele continuasse a estudar, mas está difícil. Ele sentiu muito a morte da mãe, gostava muito dela”.

II. Deolinda, quase cinquenta anos, dirigente num organismo público prestigiado. “Não me arrependo de nada, mas como tive meu primeiro filho aos dezasseis anos e o segundo aos dezassete, minha carreira profissional ficou muito condicionada. Não desisti, e completei o doutoramento já tinha passado dos quarenta; mas o salário e as condições de vida aqui não são muito boas”.

III. No banco de trás do automóvel que me transportava para mais uma reunião, uma criança de cinco ou seis anos dormitava. “Esse aí é meu tio Nassim, depois do serviço vou levá-lo a casa de minha avó”, explica-me Pedro, enquanto se esgueira com habilidade pelo meio do trânsito infernal.

IV. Entrou como um furacão na sala dos pequenos almoços do hotel, saudado por todos os empregados. De sorriso muito aberto, apertou mãos, beijou, abraçou. “Senhor Lourenço, bem-vindo a esta sua casa! Mas o senhor está diferente, nesses três meses emagreceu! Ou é da roupa preta, tão chique? E como vai sua vida?” Um momento de silêncio. “Com tristeza, tivemos um falecimento na família… Minha filha mais nova. Já estávamos esperando, ela era muito franzina… Mas isso não interessa agora, bom mesmo é rever vocês! Como vai seu pai, Dona Emília?”

Augusto de Lima em África, sempre com o seu caderno de apontamentos, tomando notas do dia a dia. “Não mudei nada, nem os nomes”, costuma dizer-me.

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